Ao contrário dos homens que, por norma, são relativamente estáveis nos seus comportamentos e fáceis de perceber, o senso comum diz-nos que as mulheres são complicadas. E, até certo ponto, são mesmo. Um dos fatores, entre muitos, que leva a tal é algo chamado Ciclo Menstrual. Nunca pensamos no assunto, mas ficamos sempre admirados quando convidamos certa mulher para sair e ela, algumas vezes, se torna numa grande libertina enquanto, noutras alturas, se transforma numa gata borralheira enfiada em casa, sem querer contactos com a civilização. O ciclo menstrual, com uma média de 28 dias, é controlado pelo sistema endócrino. Porquê 28 dias? Já respondo a essa questão.

O ciclo menstrual conta-se desde o primeiro dia de sangramento da vagina. Essa fase é chamada de menstruação e, normalmente, é indicador da não gravidez da mulher. Não é um indicador fiável, mas a falta de menstruação é, sem dúvida, motivo de preocupação quando não se deseja uma gravidez. A menstruação costuma durar 2/7 dias. Não obstante o alívio que a menstruação traz – apesar dos  problemas higiénicos que causa –, os níveis baixos de estrogénio deste período podem causar insónias e agitação, sendo uma altura “chata” para a mulher.

Finda a menstruação, começa a fase folicular, onde se verifica um aumento de hormonas como o estradiol, a progesterona e, a mais conhecida, o estrogénio. Estas hormonas fazem dilatar o útero, criando um revestimento para suportar a próxima fase, a ovulação. Nesta fase, com a avalanche de hormonas, nota-se um bem estar, uma vitalidade, uma sensualidade crescente, que terão o pico na ovulação.

Neste ponto temos os ovários a maturar o óvulo. Não há coordenação entre os dois ovários no processo: tanto pode ser o ovário direito como o esquerdo, embora não seja invulgar ambos ovularem. Quando há ovulação em ambos os ovários, e ambos forem fecundados, temos gémeos bivitelinos. Estes diferem dos gémeos idênticos, univitelinos, já que tiveram origem em óvulos diferentes enquanto os univitelinos provêm do mesmo óvulo. O tempo de vida do óvulo, caso este não seja fecundado com um espermatozóide, costuma ser de um dia, sendo depois dissolvido.

Depois da ovulação, entramos na fase luteínica durante a qual, se não houve fecundação do óvulo, há uma rápida queda hormonal, passando outra vez para a menstruação. Assistimos a uma certa estafa, a um cansaço acumulado, que se transforma habitualmente na chamada tensão pré-menstrual (TPM), caracterizado pela mudança de humor e irritabilidade.

A maioria dos contracetivos no mercado são de base hormonal para, precisamente, estabilizar o ciclo menstrual e cortar o efeito das hormonas no corpo. Outro fenómeno que não conseguimos perceber, como homens, é a frequência e intensidade das dores de cabeça que elas sentem ao longo mês. Em vez de terem um ou outro dia mau, tipicamente relacionado com uma noite de copos bem regada, elas podem chegar ao ponto de tomar Ben-u-ron ou Trifene 1000 como quem toma café e continuar a funcionar. É um estereotipo comparar uma mulher a uma boneca de porcelana quando, na realidade, são elas que passam pelo parto. E não é preciso ir tão longe: basta uma gripe para deitar o mais forte dos fortes na cama, incapacitado.

As alterações hormonais não se ficam por aqui. Durante a fase folicular, tanto a atratividade da mulher para os homens como, no sentido inverso, a sua perceção dos homens mudam. Ela sente-se mais atraente, mais desejosa, mais recetiva e isso transparece para o sexo oposto, principalmente se ela não tomar contracetivos hormonais. Nessa fase, a avaliação que ela faz dos homens costuma ser inflacionada ao contrário do que se passa na fase luteínica, em que a tendência é de distanciamento com necessidade de paz e sossego.

Tendo consciência destes factos, percebemos então por que razão uma mulher consegue ser neurótica uns dias,  extrovertida e libertina outros, depois  psicótica e impossível, para voltar ao início e repetir o ciclo vezes sem conta até chegar a menopausa. Todos nós já passámos pela experiência de convidar uma mulher para sair um dia e ela estar recetiva à ideia, voltar a convidá-la passada uma semana ou duas e ela simplesmente  desprezar-nos. Solução? Deixar passar uma semana ou duas e voltar a tentar. Não assumir que foi algo nosso nem assumir que ela é má e perversa. As coisas são como são e faz parte da missão do homem ultrapassar esse obstáculo e não a castigar por isso.

Porquê 28 dias? Na realidade, a duração média do ciclo menstrual varia entre os 29 e 30 dias consoante a população em estudo. Valor muito próximo da duração do ciclo lunar de 29 dias e 12 horas ou, dito de outra maneira, 29,5 dias. O significado dessa coincidência ainda está aberto a debates e estudos, mas acredita-se que tenha a ver com os nossos antepassados caçadores-recolectores usarem as noites de lua cheia para caçar e proteger a tribo. Nas noites de lua nova, sem luar para iluminar as estepes e caçar? Acasalar.