Durante gerações a sociedade humana tem debatido vários assuntos utópicos tais como o sentido da vida. Olhando a nossa volta, vemos uma realidade simples. O sentido da vida resuma-se a uma verdade, sobrevivência e reprodução da espécie. Tirando o ser humano, cuja evolução lhe deu neurónios em demasia para pensar em abstracto, todos as outras espécies vivas, tanto vegetais como animais, todos nascem, tentem viver o mais que podem, tentando reproduzirem-se, sempre que possível, durante o tempo em que estão neste mundo. No nosso caso, em Portugal, serão perto de 26.791 dias (+-73.3 Anos)[1]. Tudo o que fazemos acaba por se reflectir nesse propósito. Se antigamente o objectivo era procurar uma boa caverna como abrigo e produzir lanças e flechas para caçar, hoje em dia, procuramos um bom emprego com garantia de sustento para pagar alojamento numa zona segura e alimentação para sustento.
Tempos diferentes, as mesmas necessidades! E tal aplica-se não só aos homens, como também nas mulheres. Elas sentem essa necessidade tal como nós. E ai entre a simbiose entre homem e mulher. Eles oferecem protecção, e um aumento de chances na sobrevivência, elas fornecem a possibilidade de reprodução e dar seguimento aos genes. Por esse motivo que os homens não são propriamente fieis. Necessitam do maior número de parceiras para poder garantir a continuação da sua linhagem. Tirando raros casos, nunca ninguém discuta se determinada mulher é mãe daquela pessoa. Digo tirando raros casos, porque hoje em dia há a possibilidade da criança ser trocada no berçário. Nos institutos de Medicina Legal, a maioria dos testes de DNA são para averiguar a paternidade. Os poucos pedidos para verificar a maternidade são de casos raros de raptos e trocas de crianças. Devido a isso que, nas famílias, os tios do lado materno costumam ser tão protectores que a própria mãe superando quase sempre e empenho do lado paterno.
Na necessidade de aumentar as probabilidades de sobrevivência, os homens juntam-se e forma grupos, comunidades, gangues, instituições e sociedades. Desde os tempos em que a Humanidade era constituída por tribos até os tempos actuais sentimos a necessidade de pertencer a grupos. Ser um foragido, um excluído, era uma sentença de morte. A mera ideia de ser rejeitada de qualquer grupo, mesmo hoje em dia, apavora-nos. Mesmo hoje em dia, essa ideia é tenebrosa. Procuramos alinhar juntos dos nossos pares, formando grupos de interesses comuns, como também desejamos encontrar a nossa “cara-metade” para procriar e satisfazer a nossa programação genética.
As mulheres, ao contrário dos homens, tem muitas opções de reprodução. Dificilmente uma mulher não terá um homem a rondar e querer oferecer o seu esperma. Mesmo as menos favorecidas. Basta apresentar-se como disponível que terá opção. Como tem opção, pode dar-se ao luxo de escolher. E escolha quem lhe der a melhor possibilidade de sobrevivência.
O nosso cérebro não está preparado para o mundo actual. Muito mudou em tão pouco tempo. Hoje em dia, no mundo ocidental pelo menos, assumimos que não vamos morrer a fome, que não seremos invadidos nem massacrados. Assumimos que electricidade, televisão e internet são bens essenciais, tão importantes como agua e gaz. Confiamos que na rua estamos seguros. Segurança essa que provém do Estado, grupo que fazemos parte. Confiamos que, doentes, teremos acessos aos cuidados elementares, uma ambulância e um hospital com médicos para nós tratar.
Assumimos isso, mas os nossos cérebros não evoluíram desde os tempos antigos. Somos iguais aos egípcios que viram os Judeus sair do seu pais há milhares de anos atrás. Somos iguais aos antigos gregos, acádios, macedónios, espartanos e romanos. Em termos evolutivos, passou pouco tempo para qualquer adaptação. Vivemos actualmente numa aldeia global. Podemos estar amanhã do outro lado do mundo e assim começar uma vida nova. Actualmente a população mundial passou a marca dos 7 bilhões de pessoas. No entanto, só depois do século XVII é que a população disparou. Estima-se que o número de habitantes na Terra, 2000 anos atrás, quando Jesus Cristo terá caminhado entre nós, fosse de 300.000 e manteve-se estável durante mil anos.
Durante muito tempo vivemos em tribos e a evolução tem o seu meio de funcionar. O facto de ter havido uma mutação que destacou o polegar em relação aos outros dedos das mãos, permitiu ao ser humano, utilizar instrumentos, alterar o mundo e chegar ao mundo actual como o conhecemos. A natureza premeia essas mutações com mérito. Os mais aptos prevalecem em detrimento dos outros. E com base em tentativas e erros, chegamos ao ponto que estamos hoje. Nós, os mamíferos, somos uma espécie com dois géneros sexuais, Macho e Fêmea. Evoluímos com base em mutações e trocas de genes. Sempre que um Macho fornece o esperma para fecundar o ovulo da Fêmea, o código genético do pai é combinado de forma aleatória com o código genético da mãe para produzir uma nova criança com as características dos seus progenitores. O cruzamento não é determinista. Mesmo com boas probabilidades, uma criança com ambos os progenitores altos loiros pode sair baixa e morena só porque esta tinha um avó assim. Milhares de anos de evolução, de trocas e combinações permitiu aos seres vivos afinar certos comportamentos que, em última análise, nós mantem vivos. Porque temos vertigem? Porque os que não tinham, acabavam por cair e nãos transmitir os seus genes. Porque temos medo da escuridão? Porque os nossos antepassados que não tinham medo da escuridão, saiam na noite escura e eram caçados pelos predadores que tem vantagens naturais como ver bem na escuridão. Dois factos interessantes sobre os nossos antepassados, e quando falo em antepassados, falo em milhares de anos atrás, nos “Australopitecos”, nos “Homo habilis”, nos “Homo erectus”, nos homens de Neandertal e nós o homo sapiens. Porque será que o período da mulher tem a mesma duração do que o ciclo lunar, sensivelmente 28 dias? Porque será que quando temos um grupo de mulheres vivendo em conjunto, os seus ciclos menstruais tendem para se sincronizar[2]? No tempo em que os nossos antepassados viviam em cavernas, as fêmeas que ficavam com o período fértil na lua nova ficavam aptas para engravidar, Com lua nova, não havia caça nocturna, os machos ficavam nas grutas e acasalavam permitindo assim a transmissão dos genes para a geração seguinte. As outras, não conseguiam procriar, fazendo dos genes dela, uma via sem saída. A evolução é uma força poderosa que, com o tempo, permite obter o melhor para um determinado meio.
[1] Esperança de vida à nascença para o sexo masculino em Portugal (Censos – 2001)
[2]Weller L, Weller A, Koresh-Kamin H, Ben-Shoshan R. Menstrual synchrony in a sample ofworkingwomen.Psychoneuroendocrinology. 1999 May;24(4):449-59. PMID: 10341370 [PubMed – indexed for MEDLINE]