Saber o que as mulheres querem deve ser uma das questões mais frequentes, logo a seguir ao “Qual é o sentido da vida?”, “Haverá vida no Cosmos?” e “Deus existe?”. Todos os homens, mais cedo ou mais tarde, terão entrado em pânico por causa desta pergunta. Uma velha anedota retrata este medo da seguinte forma: Uma jovem perguntou ao namorado se ele domaria um leão por ela. Ele, inocente, respondeu que não, era demasiado perigoso, que podia morrer. Então ela desespera-se, queixando-se dele, dizendo quão egoísta ele era e como não sabia o que ela queria. Ele, com ar de resignado, todo desesperado, pergunta-lhe então onde está o leão para domar. Esta anedota, como bom cliché, representa o sentimento masculino quando tentamos adivinhar o que vai na alma das mulheres. O mote popular “Não percas tempo a tentar perceber a mulher. É impossível” é um exemplo dessa mentalidade. Não é um problema simples, mas não é impossível de resolver. Requer um pouco de vontade, de atenção e, sobretudo, exige saber ouvir.
Antes do mais, deixo aqui um aviso ao leitor. Não pretendo saber o que todas as mulheres pensam ou desejam a toda o momento. Tal é impossível. Não existe maneira de produzir uma função matemática que, com base em determinadas variáveis de entrada, consiga dar um resultado claro e consistente para todo o ser do sexo feminino. Mesmo sendo omnisciente como o todo-poderoso. Como também é impossível produzir um programa que consiga, para todas as mulheres e em qualquer momento, criar uma paixão avassaladora e explosiva da parte dela. Usando a pesca como analogia, é impossível ter a certeza que em cada lançamento de linha conseguirá apanhar peixe. Todo o pescador sabe disso. Ele pode passar o dia todo a pescar e nada apanhar. Ele pode não achar piada mas não vai deixar de pescar por causa disso. Ele sabe que faz parte do jogo. Algumas vezes é bem sucedido e outras, não. Mas volta e tenta de novo. Outro dia, outro isco e até outro lugar. Assumimos que é uma aprendizagem e, com o tempo, sentimos essa evolução. Verificamos que naquele determinado lugar, naquele momento da luz fusca depois do pôr do sol, com aquele tipo de engodo, até conseguimos apanhar alguma coisa. Evoluímos com isso. Aprendemos novas técnicas e percebemos mais sobre o ecossistema onde vive a nossa presa. Compramos livros sobre o assunto, vemos documentários e experimentamos novas dicas obtidas com curiosidade. Só precisamos de aplicar a mesma paixão em relação ao sexo oposto. Se achamos natural tentar até ser bem sucedido no desporto, porque é tão surreal tentar a mesma metodologia em relação à arte de conversar com mulheres? Compramos com gosto manuais sobre este ou aquele hobbie mas recusamos perder tempo a ler algumas revistas sobre as mulheres. Errado, não acha?
Neste mundo é impossível ter certezas, mas, conhecendo o contexto, o momento e a situação, podemos calcular e sentir o toque da música que precisamos de tocar para encantar as sereias. E aí temos três escolhas. Podemos aceitar a derrota, chorar pelos cantos que o mundo é injusto e ficar sós para o resto da nossa vida. Pelo contrário, podemos ser proativos. Podemos adaptar-nos ao contexto ou podemos adaptar o contexto às nossas necessidades. Vou explicar o que querem as mulheres, correndo o risco de me espalhar e, se perder toda a minha credibilidade nesta empresa, que seja de forma graciosa e elegante, como um touro numa loja de porcelana…
O que querem as mulheres? Se fizermos essa pergunta aos homens, o mais provável é obtermos respostas vagas como “sapatos, malas, vestidos, festas, viagens, drogas”e por aí fora. Perguntamos a dez pessoas e temos dez respostas diferentes. O homem típico não faz a mínima ideia de como responder, pensando onde está a rasteira. Em boa verdade, esquecemos que as mulheres, como nós, também têm os seus desejos, os seus planos, uma história e os seus sonhos para o futuro.
Numa relação, há duas pessoas que necessitam de conciliar os seus interesses, de se reorganizar, para dar lugar a uma terceira entidade que é a relação, mesmo que seja algo tão temporário como um caso de uma noite. Na cabeça dos homens está sempre presente a ideia parva de que é obrigação delas querer estar com eles, como concubinas. Nunca fazemos o exercício mental de tentar imaginar como seria viver no lugar delas. Nunca fazemos essa auto-avaliação. Eu andaria comigo? Sou desejável para elas? Fico bem ao lado dela? As amigas dela vão gostar de me conhecer? Cheiro a cavalo e tenho aspecto de vagabundo? Caro leitor, não estou a exagerar. Já vi jovens com problemas em cativar a atenção das mulheres, queixando-se deste e daquele motivo, reclamando que esta e aquela abordagem não resultou, e, mesmo tentando ser delicado e não ofender, respondo algo como “já pensaste em usar desodorizante, mudar o teu visual neuro-depressivo e sorrir um pouco?”. Da mesma maneira que há mulheres que provocam repulsa e vontade de fugir, nunca perdemos tempo a pensar que esta análise é bidirecional. Elas sentem o mesmo em relação aos homens. Da mesma maneira que não sentimos o mesmo desejo por todas as mulheres, elas não sentem o mesmo desejo em relação a todos os homens. Será estranho pensar que se gostamos de meninas giras, elas também gostam de meninos giros?
E para que queremos saber isso tudo? Pergunta clássica. Para que serve o trabalho de tentar perceber o sexo oposto? Qualquer vendedor de sucesso aprende bem cedo o segredo para ter sucesso em vendas. Descobrir o desejo do cliente e satisfazer-lho. Este fica feliz e recompensa o vendedor com uma venda fechada. Alias, suspeito que seja por isso que os vendedores costumam ser bem sucedidos na aproximação ao sexo oposto. Os conceitos, os medos, os truques, entre muitas mais coisas, aplicam-se tanto em vendas como na conquista do sexo oposto. Inclusiva a regra número um em vendas: só temos uma oportunidade de fazer uma boa impressão.
O homem não consegue perceber o que é ser mulher neste mundo. Não percebemos o quanto custa ter uma vagina, acompanhada por um terrível período menstrual, acompanhado com a capacidade de produzir óvulos. Por muito que, no mundo ocidental em que estamos inseridos, neste caso Portugal, tentemos oferecer uma igualdade de oportunidades para ambos os sexos, sabemos que as mulheres ganham, por norma, menos que os homens para efectuar tarefas semelhantes e ter as mesmas responsabilidades. Isto no melhor caso. Já que o acesso às posições de topo, onde a avaliação é tendencial, é de difícil acesso para o sexo oposto. Noutros pontos do globo esta situação piora. Por exemplo, em lugares como a Índia ou a China, ter filhas é considerado algo muito mau. Literalmente se diz que ter uma filha é como ter um ladrão em casa. O conceito de pagar o dote à família do noivo para ele aceitar casar o filho com a sua filha é logo um indício de quanto mau pode ser nascer com o sexo feminino. Basta olhar para a República Popular da China e ver as consequências da política do filho único. Para equilibrar a população chinesa, que estava em crescimento desenfreado, restringiu-se aos casais chineses a ter apenas um filho. Foi criada uma força policial para vigiar, controlar e seguir os casais, concedendo autorizações e vigiando os nascimentos para conseguir atingir as metas do Partido. Durante anos foram feitos milhares de abortos no caso de fetos do sexo feminino porque todos queriam varões. Hoje em dia há raptos para oferecer mulheres aos homens já que não há mulheres suficientes para todos. E se recuarmos uns séculos na História da Europa, vemos quão perversa foi essa época para as mulheres na Europa Católica. A caça às bruxas foi provavelmente o maior genocídio realizado até hoje.
Mesmo em tempos recentes, de suposto bom senso e mais sabedoria, ouvimos ditados como “Entre marido e mulher não se mete a colher” ou “Bate-lhe. Não sabes porque? Não te preocupes que ela sabe. Faz parte da educação dela”
Ainda aceitamos como normal a violência doméstica. Era considerado normal “educar” a mulher, desde que não houvesse sangue à vista. Esta “educação” passa e deixa marcas nos filhos e netos. A transmissão da informação genética dos pais é rapidamente diluída em poucas gerações. A passagem dessa “educação” tende a ser mais duradoura. Conceitos e ideias radicais costumam resistir bem ao tempo. Basta lembrar uma pessoa que caminhou em cima da água há dois mil anos atrás. Mesmo hoje em dia, apesar de mais polidos, toda a arrogância machista se encontra presente e pronta para disparar quando menos esperamos e ficamos ofendidos por as mulheres se tentarem defender, sendo um pouco mais seletivas em relação ao sexo oposto. Elas sabem que é fácil e recorrente o rapto de mulheres para serem vendidas como escravas sexuais. Esse não costuma ser um problema de homens. Apenas de mulheres e crianças. Não temos noção, mas pelo mundo fora morrem mais mulheres, entre os dezasseis e os quarenta e quatro anos, devido à violência doméstica do que devido ao cancro.
Elas conhecem os perigos. Elas sabem que, se parecerem “fáceis”, são logo rotuladas com o nome de animais. Por exemplo, uma vaca é uma mulher que aceita ter sexo como todo o homem que aparece. Uma cabra é uma mulher que tem sexo com todos, todos os outros menos nós, e uma cadela é uma mulher que fica com “cio” e corre atrás de todos. Do outro lado do espectro, o homem, se tiver amantes, é um garanhão. Até podia ter uma em cada cidade, ou, quando a marinha mercante tinha mais prestigio, uma em cada porto. Quantas mais melhor.
Vemos essa diferença de critérios em todo o lado, principalmente em países onde é aplicado a Charia, a lei islâmica, que condena os adúlteros ao apedrejamento quando apanhados em flagrante. Os homens adúlteros costumam ter uma punição bem menor, considerando que é um escape ou um pequeno delito da parte dele, enquanto as mulheres adúlteras são sujeitas a plenitude da lei e são literalmente apedrejadas até a morte.
E não devemos pensar que os países onde abunda a fé cristã estão imunes ao fenómeno. Durante a passagem de ano 2016 para 2017, mesmo antes do bater das dozes badaladas, no Brasil, Sidnei Araújo saltou o muro da casa da tia da sua ex-mulher Isamara, irrompeu na festa familiar e começou a disparar, chacinando assim doze pessoas, incluindo a ex-mulher e o próprio filho, suicidando-se em seguida. Durante a investigação, foram revelados textos enviados pelo homicida para amigos. No documento, vemos que Araújo não tinha medo de morrer nem de ser preso pelo que iria fazer e, para ele, a ex-mulher e outras mulheres, familiares diretas de Isamara, eram umas “vadias”. No entanto, depois deste acontecimento macabro, a discussão focou-se sobre quem era o culpado. Ele, que cometeu o homicídio brutal e premeditado de doze pessoas, incluindo o filho, ou ela, por o ter deixado e por não permitir “desfrutar uma vida com o filho por causa de um sistema feminista e umas loucas” levando-o assim a loucura?
A mulher não pode gostar de sexo. Gostar e ter sexo fortuitamente é desvalorizar a cotação da vagina na bolsa de valor. No entanto, ter sexo a troco de um jantar, de dinheiro, prendas e, em última instância, do casamento é algo normal e esperado. Ter sexo por desejo é algo reprovável, e elas próprias relembram isso entre elas, usando insultos como “vaca”, “puta” e “galdéria”. Até as prostituas estão acima, já que fazem disso profissão, a troco de dinheiro, para sustentar os seus filhos e respetivo proxeneta. Temos a ideia que a mulher tem que ser uma santa ou então é uma libertina. Não conseguimos visualizar que elas são ambas, dependendo da persona [1]que tem de ser, da máscara que tem de usar, do momento e, principalmente, da pessoa com quem tem de lidar. Homens, com essa mentalidade dogmática, não costumam sair-se bem com o sexo oposto.
É complicado ser-se mulher. Eu nem falo na ginástica que elas executam todos os dias para aparecer lindas e belas, enquanto tratam da casa, nem da coragem em andar naquelas maravilhas da engenharia ou – dependendo do ponto de vista – máquinas de tortura ambulantes , que são os sapatos de salto alto, que torneiam as pernas, dando uma silhueta esbelta, mas a que preço? Quando vemos uma mulher nessa situação, o que pensamos é “Que bela v—-a. F—a-te toda” em vez de perguntar para quem ela se esmerou na apresentação ou se não está cansada de estar tanto tempo em pé.
Dica: Se virem uma ou várias mulheres de saltos altos, bem altos, durante muito tempo de pé, paradas, que tal convidarem-nas para se sentarem e beberem algo? Pode mesmo usar esse tema de conversa. “Olá. Tenho reparado que tem estado de pé há algum tempo. Esses sapatos são lindos como tudo mas parecem tortuosos. Que tal irmos até aquela mesa? Beber algo e descansar esses gémeos torturados?”.
Isso tudo vem desde cedo. Nos primeiros anos, não vemos uma grande diferença entre meninos e meninas. Aliás, facilmente nos enganamos e tratamos por João as Joanas e vice versa. Principalmente se tiverem o cabelo curto e usarem calças. Tanto podia ser uma maria-rapaz como um rapaz com alguma mania. No entanto, com atenção, conseguimos distinguir diferenças. Com uma dúzia de anos, acontece algo de especial. Além do aparecimento dos primeiros atributos físicos femininos habituais como pelos púbicos e o surgimento dos seios, elas ficam mais maduras, mais perspicazes e com uma visão mais correta do mundo que as rodeia. E quando aparece o período, em muitas civilizações, é o ponto de viragem onde elas são consideradas mulheres. Antigamente, numa época em que era normal ter-se filhos aos doze anos, não era estranho dizer que fulana, com cinquenta anos por exemplo, já era velha . Mesmo hoje em dia, no mundo da moda por exemplo, uma rapariga com vinte anos já é considerada velha e é difícil encontrar muitos modelos com mais de 25 anos em atividade, de forma permanente pelo menos.
Dica: ao conversar com uma mulher, se ela lhe disser que é modelo, pergunte-lhe que agência a representa e se ela é já modelo profissional no sentido de ser a sua atividade profissional ou se faz apenas trabalhos esporádicos. O habitual é ela fazer só alguns trabalhos ocasionais e atirar essa bomba para assustar os pretendentes. Desta forma, sobressai-se do macho típico que se esbara contra o muro de betão armado, mostrando algum conhecimento sobre o mundo dela.
O processo de crescimento entre os dois sexos é diferente. Há uma falha temporal entre os dois sexos. Os rapazes começam a crescer e a ganhar forma masculina e atlética, massa muscular, altura, pelos e testosterona para marcar o seu território com um odor bem expressivo bem mais tarde. E quando dispara, não tem nem tempo, nem predisposição para pensar no mundo das raparigas, enquanto as miúdas estão desde cedo habituadas aos enredos mais apaixonados disponíveis nas novelas e filmes cor-de-rosa. É sempre interessante ver grupos de jovens adolescentes com doze/treze anos, rapazes e raparigas, a brincar separados. Eles, por exemplo, com consolas portáteis jogando o último desafio do momento, enquanto elas visualizam mais um episódio da mais recente novela onde o casal do momento se olha olhos nos olhos e dá o tão esperado beijo, sonhando com o dia em que o “rapaz” lá do sítio reparará nela, fazendo inveja as amigas.
Todos temos uma história. Somos como somos pela nossa genética, mas também pela nossa educação. Somos como somos pelo somatório de todos os acontecimentos que presenciamos e sentimos. Pessoas com uma boa infância terão um comportamento diferente dos que provêm de lares desfeitos, não porque têm genes defeituosos mas sim porque sentem que não têm direito a mais. A instrução dos pais não parece influenciar, mas a sua educação e religião assim como o exemplo dado por eles moldam a prole e respetivas gerações futuras. Para tentar perceber uma mulher, temos que perceber a sua história e o seu passado. E podem crer que, se ouvirmos, elas terão todo o gosto em nos contar os seus maiores segredos, medos e sonhos. Há algo de fabuloso que desperta na mulher quando ela se sente ouvida e vista com olhos de ver por um homem.
Temos que perceber o percurso a que ela teve de se sujeitar, o que ela enfrentou, para chegar até nós. Temos que nos lembrar que ela foi criança e provavelmente teve que passar pelo drama de lhe aparecer o período no meio das aulas, sendo alvo de chacota dos colegas mais “brutos”. Teve também que aguentar os apalpões e beliscões quando lhe apareceram os seios e teve que começar a usar soutiens. As crianças conseguem a ser bem maldosas entre elas!
Por essa altura costuma aparecer o rapaz mais velho que se destaca na multidão e lhe desperta a atenção, e as hormonas também. Beijos, amassos e bem provavelmente outras coisas molhadas, ao jeito de Hollywood. Elas somam experiências e seguem em aventuras. Não podemos esquecer o efeito social de ficar bem no grupo e das amigas mais velhas e experientes. E claro, o pior pesadelo dos pais, a primeira vez tão desejada e normalmente tão traumatizante. E com isso vem o problema de sempre. Muitas vezes, ele fala demais, fazendo que todos acabem por saber, ou imaginar, o romance com todos os pormenores dignos de uma bolinha vermelha no canto superior da conversa.
Dica: O homem exagera e consegue converter um pequeno beijo numa orgia romana. Elas, pelo contrário, por necessidade e receio de represálias, convertem um gangbang numa coisita sem importância que teve uma vez. Muitas mentem sobre o número oficial de casos que tiveram. Elas costumam reduzir o número de casos que tiveram por um fator de dez. Se teve até nove casos, dirá um. Se chegou até dezanove casos, dirá dois. Se teve até trinta, dirá três e por ai fora. É sempre um bom tema de conversa para dar início a uma noite escaldante.
Ele fala e fala demais. Resultado, ela fica rotulada de mulher fácil e fica marcada com esse episódio. Ela poderá ficar para sempre na defensiva em relação aos homens, inclusive com um sentimento de ódio ou então, o mais comum, ficar muito mais reservada e discreta. Conseguem visualizar agora a origem do ditado “As mais caladas são as piores”. Temos a ideia de que a mulher é um animal assexuado que só tem sexo para efeito de procriação ou entretenimento do seu macho. Tal ideia é profundamente errada.
Com o tempo ela poderá dedicar-se aos estudos ou empenhar-se no sucesso profissional, podendo ter um namoro tradicional, casar e ter filhos e, ao fim de alguns anos, divorciar-se. Quantas não terão “caído em tentação” e terão ido de férias para lugares exóticos, longe de qualquer conhecido, e acabado por participar em festas swing ou em competições de mamading só porque sentem necessidade de viver um pouco ou de ter férias do seu relacionamento? Muitas vezes nem é mau. Apenas é algo seco, sem sabor. Elas sentem que não poderão nunca ter um companheiro que lhes permita ser elas mesmas nas quatro paredes do seu lar. Poderão arranjar um flirt com o empregado do café da esquina, por ele ser relaxado e despreocupado com a vida, ou com o colega de trabalho que é casado, sabe ser discreto e tem umas horas de almoço disponíveis para umas voltinhas rápidas. Mesmo a dona de casa, mãe de filhos, necessita de se sentir viva, sentir que faz a diferença, como todos nós. Por algum motivo a editora Harlequim teve o sucesso que teve com os seus livros de bolso. “Começa o ano com grandes ilusões! As nossas autoras convidam-te a viver grandes aventuras, novos romances e relações muito apaixonadas.”. Basta dar uma espreitadela aos maiores sucessos literários dos últimos meses e ver a que público é destinado.
Sou muito dado à sabedoria popular. Pela educação que tive, pelos meios em que vivi, é algo que aprecio. Há uma lógica por detrás dela. Afinal era o meio de transmitir o conhecimento para quem não tinha acesso à educação, como era o caso de Portugal há umas décadas atrás. Por exemplo, a meteorologia. Todos conhecemos expressões como por exemplo “Em Abril, águas mil” ou então “De Espanha, nem bom vento, nem bom casamento”. A primeira é fácil comprovar com uma pequena análise estatística do clima nesse mês. É a transição do inverno gelado para a primavera húmida e o sol a despertar. A segunda vem do facto de Espanha possuir um clima continental e de o vento soprar habitualmente de lá para cá, cortesia do anticiclone dos Açores. No inverno, gelado. No verão, canícula. E dos casamentos? Basta uma breve leitura da nossa História para ver que a nossa relação com o país vizinho nem sempre foi calma e suave[2].
Porque estou a falar disso? Em tempos, num café aqui perto, e enquanto era atendido pela responsável do estabelecimento, vi um daqueles azulejos tipicamente portugueses com a seguinte mensagem: “Todo o homem é um diabo, não há mulher que o negue, mas todas vivem atrás de um diabo que as carregue”.
Frase simples, mas poderosa. Acreditamos que a mulher quer prendas e o que o dinheiro proporciona. Na realidade, elas querem coisas bem mais simples e diretas. Claro que, na falta do testo para a sua panela, muitas não se importam de aproveitar as prendas e ofertas do sexo oposto e ir gozando um pouco de prazer aqui e ali. E sejamos realistas: uma mulher com atributos tem sempre homens a rondar e prontos para lhe saltar para a espinha. Basta ela estar disponível e recetiva.
Mulheres belas e bem sucedidas, mesmo no mundo da moda ou cinema, costumam ser bem solitárias. Há poucos homens com postura e arcaboiço para aguentar a pressão dos médias entre outras. Tem que fazer dieta e exercícios desde os doze anos, o que basicamente significa uma década ou duas de fome e privações, ver passar ao lado tudo o que é doce e apetitoso para manter o aspecto físico que todos julgam natural. No meio onde estão inseridas, costumam ter namorados menos simpáticos e até violentos. E claro, quando os relacionamentos chegam ao fim, os tablóides e revistas cor-de-rosa usam e abusam do assunto para entretenimento dos meros mortais que sonham com a vida de luxo dos seus ídolos. No entanto, desconhecem as várias operações plásticas, geralmente dolorosas e bem penosas, a que eles se sujeitam para atingir a “perfeição”. Um dia, num futuro bem próximo, a beleza desvanece-se e todos verão que era apenas uma montra sem conteúdo, uma mulher de meia idade, triste e acabada, apenas parecida com alguém familiar, que teremos visto algures por ai. Acaba por ser uma piada cósmica. Recebem todos aqueles atributos, fazem sonhar todos e, no entanto, acabam por sentir que estão sozinhas e ninguém as quer realmente. Muitos apenas querem aquela fantasia, não a pessoa por detrás. Quantas vezes vemos o estereótipo de mulher produzida, a caminhar nos centros comerciais toda produzida, olhando para o fundo, com uma cara de mal amada, evitando o contacto visual. O problema é que ela se veste para chamar a atenção de certo tipo de homem, alguém em especial por quem ela desejava ser vista, mas que não repara nela. No entanto, todos os outros reparam e, como mecanismo de defesa, ela coloca uma barreira intransponível, tipo rede mosquiteira, lançando o clássico piropo para o ar, alimentando assim o fosso entre sexos.
Pode parecer que não, mas não há só más notícias. Podemos encomendar a nossa sorte. A minha definição de sorte é a seguinte: sorte é a oportunidade que se junta à preparação. Na nossa vida vão surgindo muitas oportunidades. Muitas vezes nem as vemos de tão inaptos que somos. Outras vezes, são vistas, mas deixamos passar por medo de falhar ou por não sabermos como avançar. Das poucas oportunidades que vemos e tentamos alcançar, muitas tentamos e falhamos. Falhamos, mas aprendemos. E com essa aprendizagem evoluímos e chega a hora, geralmente quando menos esperamos, em que somos bem sucedidos. Parece a oportunidade na hora certa. Tivemos sorte. Esta sensação de hora certa costuma indicar que estamos preparados e recetivos. Sentimos que já não é algo inatingível mas acessível.
Quando Messi marcou o golo contra o Irão no último minuto, arrumando assim o jogo e permitindo à seleção da Argentina, contra todas as espectativas, seguir em frente no mundial de 2014, alguns terão considerado que ele teve sorte naquele lance. Outros sabem mais, Como o seleccionador Carlos Queiroz. As palavras dele, no fim do jogo, resume tudo. “O que aconteceu? Aconteceu o Messi!”. Teve sorte, claro. Teve também uma oportunidade e muitas horas de treino a ensaiar remates à baliza.
“Amat Victoria Curam”. A vitória ama a preparação. Podemos e devemos mudar para ser melhores. Podemos nascer com determinadas qualidades ou podemos cultivá-las. É preciso ver onde falhámos e precisamos de melhorar e fazer por isso. Como em qualquer área, temos que mudar, aprender, evoluir e tornar-nos melhores ou ficamos para trás e esquecidos para sempre.
Já pensaram nas horas que as mulheres passam ao espelho? Muitas vezes, aquele monumento que vemos na rua terá o aspecto de bruxa ao acordar, mas aquela base, aquela “toilete”, as combinações de cores para fazer sobressair este ou aquele pormenor do corpo, ou a forma como o cabelo foi penteado para disfarçar aquela pequena falha no rosto transformaram-na. “Au naturel”, sem aquelas artes mágicas, sem a ajuda dos feitiços cosméticos e tirando aquela roupa colorida e sensual, ficamos com uma pessoa totalmente diferente. Uma mulher que gasta umas horas em frente ao espelho para sair quer ter alguém que gaste um bocado do seu tempo e energia no seu visual. Ele não tem que ser um Adónis, mas precisa de ter bom aspeto. Ele não precisa de ter um six-pack que rivaliza com o Arnold, mas precisa de se mexer e de não concorrer com o Bibendum para ser a mascote da Michelin. Ele não precisa ter tudo de marca, mas precisa de ter a roupa limpa e passada.
De todas as qualidades que um homem precisa de ter para deixar uma mulher feliz podemos destacar três que, na minha opinião, são requisitos para qualquer relação de sucesso. Ele precisa de ser um líder, um macho alfa, capaz de a levar a viver uma aventura e de a proteger quando necessário. Hoje em dia tal não significa ele agarrar num mosquete para defender a honra dela, mas sim dar- lhe uma sensação de confiança em relação ao futuro. As pessoas precisam de ter um guia que transmita a sensação de confiança, de saber o que fazer e para onde ir. Ele precisa de ser um homem com um plano. Ele precisa de ser um líder. Um líder só o é se for reconhecido como tal. Em geral, isso é atingido de duas maneiras, ou pelo medo ou pela admiração. Basta relembrar que os imperadores romanos usavam ambas. Mesmo hoje, no dia a dia, quem tem chefes menos simpáticos tem que aceitar e tolerar situações difíceis. Tal deve-se ao facto de esse chefe ter o poder de despedir ou manter o empregado na ficha de pagamentos. O medo de ser despedido faz com que aceitemos a autoridade da pessoa no comando. Deslumbrar e aterrorizar pode resultar bem em empresas, mas é algo que não se recomenda em relacionamentos.
Em segundo lugar, ele precisa de ser o seu companheiro, amigo e confidente. Precisa de ser o tal que a faz sentir-se única e especial. Somos perto de sete mil milhões de seres, parecidos uns com os outros. Precisamos de ter algo que nos destaque da multidão. Precisamos de fazer a diferença na vida de alguém. Quando começamos a ter muitas relações, a conhecer muitas mulheres, a determinada altura surgem perguntas como “O que sou para ti?” ou “Sou apenas mais uma face num mar de gente?”. Não é, tipicamente, um pedido de casamento. Mesmo em relações esporádicas, ela precisa de sentir que, naquele momento, mesmo que breve, ele está presente. Ela tem que sentir que ele “está” com ela.
E por fim e não menos importante, é preciso existir chama, química. Dito de outra forma, é preciso ser-se um bom amante que a faça levitar de prazer e que não seja egoísta no prazer. Sejamos realista. O coito típico é algo rápido e curto. O habitual é ele chegar baixar as calças e “despejar” a sua essência sem muita preocupação em saber se ela chegou a ter algum prazer. Isso tudo em menos de cinco minutos. Muitos têm dificuldade em atingir o orgasmo ou nem conseguem manter a ereção por muito tempo. Mas elas não. Quando começamos a falar sobre o assunto com muitas mulheres, descobrimos que há muita fome escondida em relacionamentos de fachada. Assim, quando aparece alguém que investe quinze minutos em preliminares, seguidos de vinte minutos em sexo oral e mais quinze minutos em sexo suave mas profundo, elas deliram como se fosse uma explosão termonuclear. Se juntarmos o fruto proibido à equação, então o prazer delas dispara.
Qualquer homem, se pretende ter uma relação duradoura e feliz, precisa de tomar conta destas facetas na sua vida. Precisa de evoluir, aprender e melhorar. Mesmo conseguindo uma relação estável, esta só é estável se houver investimento de tempo e vontade. Nos homens, temos um terrível defeito. Quando conseguimos parceira, parece que um interruptor se desliga automaticamente, dando a sensação de “Feito. Podemos seguir em frente com outras coisas”. Sem pensar que elas precisam de atenção. Erro crasso. Essa é uma boa maneira para criar uma implicativa.
[1] Persona – Expressão latina para Mascara / Personagem nos palcos do teatro.
[2] Recomendo uma leitura do “Auto da Barca do Inferno” para ver como os nossos hermanos cuidavam das nossas mulheres enquanto íamos “Por mares nunca dantes navegados”.