Este é um assunto controverso e confuso. Para algumas pessoas, o aspeto físico conta acima de tudo. Para outras, o aspeto físico não conta assim tanto. Esta matéria é estudada mundialmente e aplicada em inúmeras situações como, por exemplo, na preparação de candidatos para eleições ou na escolha de modelos para campanhas publicitárias. Podemos até voltar à Grécia antiga onde Aristóteles costumava dizer que a beleza é melhor do que qualquer boa recomendação[1]. É algo que remonta ao início da nossa história. No antigo Egito, por exemplo, temos a rainha Cleópatra, que dividiu César e Marco António com a sua beleza. Ela tomava banhos hidratantes de leite, mel e óleos aromáticos provindos da Grécia para hidratar a pele no clima seco do Egito, e sal do mar morto para esfoliar a pele. Desde que temos registos históricos que verificamos o uso de perfumes e bálsamos para efeitos estéticos.
“Maria pegou uma libra de bálsamo de nardo puro, um óleo perfumado muito caro, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos. E a casa encheu-se com a fragrância daquele bálsamo”[2].
Outro fator de beleza vem da diferenciação positiva. Altura, tom de pele, cor de cabelo ou mesmo estrutura do corpo. Por exemplo, os navegadores europeus, mesmo os menos favorecidos fisicamente, quando atracavam nas praias idílicas da Indochina e se encontravam com os povos locais eram considerados exóticos pelas mulheres locais já que eram mais altos do que os homens da terra e o seu tom de pele era mais claro. Mesmo hoje em dia, qualquer português que viaje para qualquer destino africano terá abundândia de oportunidades com o sexo oposto pelos mesmos motivos que os nossos antepassados navegadores faziam furor há quinhentos anos. É um estrangeiro pertencente a grupo restrito e inacessível. Destaca-se ao longe na multidão e, efeito colateral, assumimos logo que é alguém culto e com posses. Outro exemplo será um dinamarquês de 30 anos, no pico da sua forma física, careca e com metro e noventa de altura, tirando o seu doutoramento em Portugal. Essa pessoa, saindo à noite com os colegas, irá certamente ofuscar os outros homens e atrair as atenções da população feminina em qualquer discoteca portuguesa.
Este é um assunto delicado já que ninguém gosta de admitir que julga alguém em parte pelo seu aspeto físico. E isso começa desde muito cedo, literalmente desde o nosso nascimento. Nos berçários, as enfermeiras dão mais atenção, agarram mais e falam mais com os bebés considerados mais giros, mais engraçados[3], favorecendo-os em relação aos menos favorecidos. Isto continua em criança, na escola, onde os professores dão mais atenção, tratam de forma diferente as crianças com base em fatores elitistas. Não vão encontrar nenhum professor que seja capaz de admitir esta situação. Provavelmente, nem eles se apercebem deste comportamento já que é algo subtil, mas são as próprias crianças que dão pela diferenciação. Eles gastam mais tempo com certas crianças, dão-lhes mais atenção em detrimento das outras, o que reforça a sensação de aceitação ou de rejeição que a criança tem de si, com os respectivos impactos na sua autoestima e formação da personalidade, contribuindo para uma profecia autorrealizável. Gastando mais tempo com essas crianças, elas desenvolvem-se mais rapidamente, ficam com um conjunto de expectativas maiores do que as crianças ignoradas. “Ele é mais giro do que eu, logo tem direito a mais do que eu, logo ele merece mais do que eu” e isto só porque o outro teve melhor sorte à nascença. Isto acontece em quase todas as actividades sociais. Por exemplo, num consultório médico, os médicos tendem a passar mais tempo com os pacientes fisicamente mais atraentes, dando um atendimento mais delicado, respondendo a mais perguntas, dando mais detalhes e indicações sobre as opções disponíveis.
Mesmo no mercado de trabalho as coisas processam-se dessa maneira. Não vou dar o exemplo de Oskar Schindler que, de mais de uma dezena de mulheres, preferiu dispensar a única profissional para ficar com todas as outras donzelas formosas presentes. Ainda estou à espera de encontrar o empresário que, entre um grupo de mulheres, vá escolher a mais feia só por ser a mais eficiente.
Recomendo a leitura da investigação de Daniel Hamermesh[4] sobre a relação entre beleza e economia. Ele apresenta evidências de que o aspeto físico influencia o ordenado e o percurso profissional de uma pessoa. Pessoas fisicamente apelativas são beneficiadas tanto no ordenado como na progressão na carreira. O mesmo se aplica no campo judicial. Pessoas giras são consideradas vítimas em detrimento das pessoas menos avantajadas, que são consideradas vilãs.
No entanto há uma diferença. Na progressão na carreira, os homens não têm problemas. Quanto mais charmosos, melhor. Nas mulheres, já não é bem assim. Há uma linha em que saltamos de boa aparência para sexy, o que se torna um handicap para que as mulheres atinjam posições de topo. Há uma cultura popular que diz que mulheres sexy são burras. Tal pensamento é errado. Normalmente a mulher aproveita os seus atributos físicos, resguardando o lado intelectual. No mundo empresarial, geralmente, as mulheres optam pelo contrário, resguardando quanto basta o físico em detrimento do intelecto para se precaverem do estereótipo da mulher fútil.
É algo nosso. Gostamos de gritar Liberdade e Igualdade, mas tudo o que fazemos é julgar, julgar e julgar. Faz parte da nossa programação genética. Não gostamos de pensar nisso e preferimos acreditar que somos justos, apesar de sentir que não. Uma consequência disso é a explosão da indústria da beleza e a cirurgia plástica ser considerada um investimento. Melhorar fisicamente aumenta a autoestima e reflete-se no resto. Mudamos a personalidade, adquirimos mais confiança e maior poder de persuasão. Se somos mais confiantes tanto ao nível social como profissional, aumentamos as nossas possibilidades de sucesso. O mercado da beleza era essencialmente virado para as mulheres até há uns 10 anos; com o surgimento do metrossexual, temos visto desenvolver-se uma vertente para homens. Já é natural ver os homens, de forma generalizada, preocuparem-se com a sua imagem. Já não é um estigma ir à secção de loções e escolher um gel de banho com cheiro Amêndoa.
O que é beleza? Como definir uma pessoa atraente? É algo completamente subjetivo. Depende da perceção da nossa pessoa pelos olhos de outra. Se perguntarmos a 5 pessoas diferentes para definirem atratividade, iremos ter 5 definições diferentes. Cada um tem a sua escala de beleza e o seu referencial. Todos passamos pela situação de olhar para uma revista, alegrar os olhos com a imagem de uma pessoa deliciosa e chegar um amigo por trás e dizer: “Para de olhar. Não é nada de especial!”. É um fator que depende não só do aspecto físico como do contexto em que estamos inseridos, como no exemplo que dei no início deste texto.
E como medir a atratividade de uma pessoa? Existem escalas e procedimentos. De forma resumida, é reunido um grupo de pessoas sem relação nenhuma com a pessoa em questão. É apresentada uma foto, ou várias consoante o tema em estudo, e pedimos para preencher um questionário preparado para o efeito. E porque têm que ser pessoas independentes? É comum uma pessoa fazer uma autoavaliação de si muito inflacionada, principalmente os homens. O mesmo se passa com as pessoas próximas. Pela sua proximidade, por nos serem especiais, tendemos a inflacionar essa avaliação. Existem redes sociais e aplicações como o “hotornot” ou o “badoo” onde podemos publicar uma foto nossa e ver como será avaliada. A avaliação tenderá a ser diferente julgamos inicialmente.
Temos a noção de que o homem privilegia o aspeto físico da mulher. Ela tem que ser uma Afrodite. A mulher, dependendo do que pretende no momento, se está menstruada, se profissionalmente já se encontra numa posição estável entre outros fatores, tende a privilegiar outros fatores como posição social ou personalidade. No entanto, cada vez mais aumenta a importância da beleza na escolha do seu parceiro a longo prazo. Imaginemos uma escala de 0 até 10, sendo 0 um emplastro e o 10 um anjo da Victoria Secrets. Apesar de não haver ainda nenhum estudo que o demostre, não esperamos ver uma 9 ou 10 casar ou relacionar-se com um 1 ou 2. Pessoas extremamente atraentes não se relacionam com pessoas pouco atraentes.
Nascemos com um conjunto de genes que nos dão certas propriedades físicas como a cor dos olhos, uma voz penetrante ou uma estrutura física digna de um Adónis. Alguns desses atributos podem ser melhorados. Podemos disfarçar por um curto período de tempo. Podemos usar lentes de contacto para mudar a cor dos olhos, pintar o cabelo e ir ao ginásio para moldar o corpo como pretendemos. Outros requerem um investimento em cirurgias plásticas para mudar, por exemplo, o tamanho dos seios, a compleição da face, do nariz, dos lábios e mesmo a nossa altura.
Pessoas altas são mais atraentes do que pessoas baixas[5]. Da Indonésia, vem um trabalho de investigação do grupo de trabalho de Kitae Sohn que demostra isso. A altura média das pessoas, nesta zona do mundo, é das mais baixas, o que facilita a obtenção de resultados. O resultado dessa investigação foi que os casais com maior diferença de altura, tendiam a ser os casais mais felizes. Claro que casais com melhores rendimentos também tinham um aumento de felicidade em relação ao resto do universo em estudo. Outra descoberta importante foi que esse efeito tendia a desaparecer com o tempo. Ao fim de 18 anos de casados, a altura já não entrava na equação da felicidade.
Como referi há pouco, a atratividade de uma pessoa está nos olhos da pessoa que vê e não pode ser reduzida ao físico. Outros fatores entram no jogo. Na Austrália[6] foram conduzidas experiências para averiguar se era possível aumentar a atratividade de uma pessoa sem alterar o seu aspeto físico. Num determinado piso de um centro hospitalar na Austrália, foi posto um ator representando o papel de auxiliar de limpeza, com os devidos adereços, nas tarefas diárias de manutenção. O líder da investigação passou, com um grupo de 30 pessoas, apresentando o nosso ator para depois seguir caminho para outra sala, sem dar a entender que era esse o objetivo real do teste. Os elementos do grupo preencheram, no fim, um questionário com um conjunto de perguntas e algumas perguntas foram discretamente inseridas para permitir a avaliação do nosso auxiliar.
Foi feito o mesmo com outro grupo, mas, desta vez, sem alterar o ambiente e o vestuário, o ator assumiu o papel de médico. Foi apresentado como médico residente desse piso. Foi feito no fim o mesmo questionário e os resultados obtidos mostram que maiores credenciais aumentam a atratividade de uma pessoa. Isto não é novo. Quando mudamos de emprego, temos o cuidado de pedir boas cartas de recomendação para ajudar na próxima entrevista de trabalho. O pessoal de marketing sabe bem disso. Toda a referência é boa e pode ser dita por qualquer pessoa, menos o próprio. Qualquer profissional vai instruir a sua secretária para dizer simples palavras como “o Dr. Cicrano é muito bom. Ele vai resolver o seu problema.” Dai existir um código de vestuário em algumas empresas. É uma forma de diferenciar, indicar que fazem parte de um grupo, e indicar que estão num nível superior.
Tudo o que fazemos, desde muito cedo, é julgar. Gostamos de clichés porque funcionam. Tornam a nossa vida mais simples. Longe de estarem sempre certos, vamos falhando o suficiente para ir vivendo o dia a dia. Vemos uma pessoa bem vestida, assumimos que é de boas famílias. Vemos uma pessoa em farrapos, decidimos que é um pobre desgraçado e, geralmente, afastamo-nos dele. Gostamos de estar no nosso grupo, entre pares.
Julgamos e estereotipamos. Metemos as pessoas em sacos diferentes. Gostamos/Não gostamos. Séria/brincalhona. Respeitável/Desprezível. E, assim que criamos a primeira impressão, nos primeiros 8 segundos em que conhecemos alguém, classificamos essa pessoa dificilmente iremos mudar a nossa opinião sobre ela. Sabemos que o primeiro impacto é tudo. E as mulheres sabem disso. Sabem que os homens dão muita importância ao aspeto físico. E o chamar de atenção no primeiro impacto é tudo. É a diferença entre cativar atenção para querer saber mais ou descartar e seguir em frente.
Não conseguimos separar o corpo da face. Se o corpo for desproporcionado, terá um impacto global negativo. Por exemplo, demasiado baixo, demasiado magro ou extremamente gordo. Dito isto, é consensual que a face é para onde olhamos em primeiro lugar. Uma boa parte da indústria cosmética é para melhorar a cara. Há uma ordem. Primeiro é a boca, os lábios. Vêm depois os olhos e o cabelo. Já Aristóteles dizia: “O Todo é Maior do que a Soma das Partes”[7]. É a combinação de cara, cabelo, corpo, vestuário e apresentação que determina a atratividade física de uma pessoa. Pequenas ajustes trazem grandes mudanças.
Somos uma espécie que prezamos muito o aspeto físico, ao qual aplicamos altos padrões, no entanto, se melhoramos o nosso aspeto, este não pode parecer artificial. Aceitamos bem o esforço investido no ginásio para moldar o corpo, mas desprezamos ver a marca resultante da operação de redução do estômago. Adoramos ver uma bela cabeleira, desde que ignoremos que se trata uma peruca. Adoramos ver seios avantajados, desde que não seja visível o corte para a inserção do implante mamário.
Há uma característica consensual, estômagos salientes. É muito raro encontrar uma pessoa que gosta de ver um homem com uma barriga de 9 meses. Olhamos para ele e extrapolamos que tem um problema no metabolismo, logo não é saudável. Julgamos que terá problemas de diabetes, colesterol e está prestes a tornar-se uma bomba ambulante. A idade é outro fator negativo na equação da atratividade física. Pessoas com idade avançada perdem o chamado “Sex Appeal”. As feições mudam. A pele fica descolorada, cheia de manchas e enrugada. Os dentes mudam de branco para amarelo ou cinzento. Tudo evidências de que o nosso corpo está a entrar em declínio e assumimos que já não há nada de interessante nessa pessoa. Se um jovem de 30 cometer uma gafe, foi apenas uma gafe. A mesma gafe, num adulto, de 50 indicia perda de qualidades e o caminhar para a reforma. Dito de outra maneira: está a ficar “choné”.
Tudo conta e a soma das partes devem ser equilibradas. Pequenas alterações levam a grandes mudanças. Entende-se pequenas mudanças a mudança de óculos ou de estilo de vestuário. Perder peso, perder a gordura acumulada e mudar para uma alimentação mais saudável. Um pequeno exemplo. Comparemos duas mulheres, colegas de trabalho, sentadas numa esplanada, almoçando. Uma com 35 anos, com significativo excesso de peso, desleixada, maquiagem em excesso e uma postura corporal de quem está mal na vida. Ao lado, temos outra senhora, com 50 anos, mas com corpo cuidado por horas de corrida e alimentação saudável, vestida com um estilo atual e jovem. Qual das duas senhoras que acabei de descrever terá maior probabilidadede lhe ser oferecido um café, de ser convidada para organizar a festa do fim do ano da empresa e de ter uma promoção para um cargo de maior visibilidade e responsabilidade?
Isto tudo não são só más notícias. Costumo usar a analogia do jogo de cartas em relação às nossas vidas. Alguns têm a sorte de receber um bom conjunto de cartas. Outros, nem por isso, e isso não podemos decidir nem influenciar. No entanto, com o jogo que temos, podemos jogar ou podemos desistir. Mesmo com um jogo óptimo, podemos perder. Mesmo com um jogo péssimo, podemos ganhar. Podemos fazer batota ou podemos fazer bluff. Tão importante como ter um bom jogo, é a maneira como jogamos. Na realidade, não é preciso ser-se giro. É preciso ter-se bom aspecto. O conjunto tem que ser apelativo e consistente. E, muitas vezes, para conseguir isso é preciso mudar.
O que fazer para melhorar o nosso aspecto físico? Mudar para melhor. Não podemos esperar melhorar sem efetuar mudanças. Para alguns, basta umas horas no ginásio e uns cortes na alimentação para obter aquela estrutura em V tão apreciada pelas mulheres. O exercício tem o duplo efeito de mexer com o metabolismo e dar autoconfiança. Outros terão que ir ao dentista e investir num aparelho para corrigir a dentição. Mudar de visual. Começar pelo corte de cabelo, ou pelos óculos para quem os usa, ou mesmo mudar para lentes de contacto. Pedir a opinião de mulheres sobre o assunto. Que tipos de óculos ficam bem no rosto? O mesmo com o vestuário. Estar na moda ou usar peças do passado é a diferença entre parecer mais jovem ou antiquado. Nessas alturas é bom ter amigas. Elas costumam ter uma melhor perceção do que os homens do que fica bem ou não e terão certamente todo o gosto em ajudar.
Mudar o estilo de vida, ler mais, voltar a estudar ou conseguir um emprego mais prestigiante. Pode parecer uma frase feita, mas a inteligência torna as pessoas mais atraentes. Quantas vezes vimos desportistas, com tudo no sítio, como geralmente ouvimos, abrir a boca e desiludir? Ser uma pessoa culta, inteligente, ajuda para aumentar o interesse nelas. Hoje em dia, então, é difícil aceitar o argumento de que o conhecimento não está acessível. É perfeitamente possível tirar cursos, até mesmo licenciaturas, sem pôr os pés na universidade.
Manter o aspecto físico é algo que não deve ser menosprezado, mesmo depois de casado. Continua a ser um fator de felicidade nos casais, mesmo depois das bodas de prata. Casais que gostam do aspeto físico do parceiro tendem a sere mais felizes do que os outros que não dão atenção a esse fator. Verdade que diminui com o tempo, mas continua presente. Por exemplo, conseguem dizer um dos rituais sagrados das senhoras reformadas? É a ida semanal ao cabeleireiro. É preciso sempre alimentar o nosso ego e do daqueles que estão a nossa volta.
[1] Diogene Laertius, Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, 300DC.
[2] João 12:3, Bíblia sagrada.
[3] Why Physically Attractive People Are More Successful: The Scientific Explanation, Social Consequences and Ethical Problems, Gordon Patzer, 2007
[4] Beauty and the Labor Market, Daniel S. Hamermesh, 2001
[5] Does a taller husband make his wife happier?, Kitae Sohn, Personality and Individual Differences, Volume 91, March 2016
[6] Looks: Why They Matter More Than You Ever Imagined, Gordon Patzer, 2007
[7] Metafísica, Aristóteles, 1003 AC